Gerando Vida



-------------------------------------------------------
15/ outubro

email pra FEMESC

"Tem varias razoes possiveis pros escaladores nao terem ido na competicao: de repente o muro era palha, ou a premiacao nao valia a pena a viagem ou o preco da inscricao; de repente o route setter nao era bom ou a competicao nao foi divulgada com antecedencia suficiente pra galera se organizar, quem sabe muitos nao estao no seu melhor "shape" dai nem se alugaram em ir la perder pros Campo Alegre, ou porque os escaladores Catarinenses tao mais na onda de passar o fim de semana na rocha do que num ginasio. Quem sabe repensar esses fatores pra uma proxima etapa vai ajudar a ter mais audiencia ou nao ter decepcao.

Vi as fotos dessa etapa de Tubarao no orkut, os boulders do morro da antena parecem bem legal, deu vontade de estar la curtindo com o grupo.

acho que se tem erro e criticas e' positivo; quer dizer que a galera "ta se mechendo" e o "acerto" e' so' questao de tempo.

Nunca entendi essa de desenvolvimento do esporte. O que tu quer dizer? Ganhar dinheiro? viver do esporte? So' quem vive $$$$ do esporte sao empresas e os patrocinados por empresas. 
Quando a gente fundou a ACEM (nao a ACEM de agora a que eu falo e' a ACEM original dos anos 90), em inumeras conversas sobre o assunto a gente queria uma ferramenta pra lidar com o "sistema", e tinha vontade de se conectar com outros escaladores e desenvolver mais escaladas mas nao a profissionalisacao do esporte. Deixa eu tentar explicar. Nossa ideia nao era ter um clubinho com carterinha, mensalidade e camiseta; era juntar pessoas pra escalar mais. Nao queriamos imitar o " sistema" a burocratizacao, a hierarquia, a politicagem; a gente ja escalava pra fugir do "sistema" qual o sentido dai de criar um "sistema" pra escalada? 
Passar o maximo de tempo na rua, ver o sol nascer e se por, dormir em qualquer lugar, comer qualquer coisa, viver sujo de magnesio e terra, dancar no mundo vertical; saber viver sem televisao, espelho ou banho; escalar e' uma atividade socialmente super marginal, e' naturalmente contra sistema. 
Quem sabe tem gente que nao participa de associacoes porque nao concorda com as ideias desses clubes, mesmo amando a Escalada Artistica, Filosofica ou Esportiva (de rocha ou competicao).

Com essa mesma desculpa de "desenvolver o esporte" quantos grampos foram batidos desnecessariamente por toda parte. Ja sofri muito observando essa atrocidade. Ouvi dizer que era porque tendo vias mais faceis (o que nao e' sinonino de vias cheias de grampos) teriamos mais escaladores. E sera que se busca mais escaladores ou escaladores mais harmoniosos com o meio? Nos 90 se tinhamos 15 escaladores na ilha, 8 escalavam 7 grau e uns 3 escalavam 8 grau (e isso queria dizer podio nas competicao nacionais) podemos igualar o 8 da epoca com o 9 de agora. Quantos escaladores escalam e quantos escalam 9? sera que essas vias "faceis " fizeram os escaladores escalarem mais e desenvolver mais suas potencialidades? Ou surgiram varias bengalas que deixam os escaladores mais covardes a tentar vias que tem esticoes?
Com certesa mais gente escala isso eu nao tenho duvida, mas qual o proveito que se tira dessa experiencia e qual a vantagem da crowd?

No passado ja busquei divulgar a escalada, nao pra ganhar dinheiro mas pra nao me sentir tao ET perto de pessoas que nunca tinham ouvido falar de escalada (materias pra jornal, tv, revista); dai depois de viajar por tantos cantos, e tantos tao crowdiados eu repensei meus valores. 

Na Tailandia tem realmente fila pra escalar, as vezes voce e' o quinto da fila, Morro da Cruz mesmo ja vivi um dia la' que o lugar parecia um Zoologico com radio alto, isopor com cerveja, cachorro, gritaria... e isso que chama desenvolver o esporte? ter varias pessoas escalando?! Posso estar ficando velha mas gosto de escalar em lugares silenciosos com pessoas em harmonia com o pico, sem fila, sem ter que ver o cara escalando com o risco de cair na cabeca do outro porque as vias sao muito perto uma da outra e o cara nao se liga que tem que esperar um pouco, ou ainda ver o outro figura que nao sabe fazer o no de oito ou dar segue e poe a namorada em risco.

Se algumas pessoas "sumiram" e nao participam ativamente de associacoes ou de atividades pra desenvover o esporte quem sabe essas tao buscando uma forma mais efetiva de fazer alguma coisa pela escalada que pra mim nao se trara de um esporte. Compreendo a escalada muito mais como arte e Yoga ( busca do samadhi) do que esporte.



50 anos da Nose

Ano passado fez 50 anos da conquista da via Nose na El Capitan em Yosemite; A Yosemite Climbing Association organizou uma reuniao com os escaladores que participaram da conquista. O mais importante deles foi o Harding que ja e' morto mais os outros 6 que estao vivos estavam la. Todos ja corcundas e bem velhinhos com as juntas dos dedos bem grossas e os rostos cheios de rugas de quem passou muitos e muitos dias no sol.

A conquista  da Nose levou varias investidas entre 1957 e 1958, com muita chuva na cabeca, com cordas de manila depois nylon, sem caderinha so umas fitas amarradas no peito, alguns pitons, sem oito, jumar ou polias, so alguns mosquetoes ovais; improvisando Stoper com pedras e fitas, pra uma das fendas eles levaram uma perna de fogao que tambem lacaram servindo de protecao, essa cordada ate hoje e' conhecida como Stoveleg. 
Essa conquista (praticamente toda em artificial), foi um grande marco na escalada em rocha e consequentemente na escalada esportiva. Poderia citar os nomes deles mas voces assim como eu provavelmente nunca ouviram falar antes (a nao ser o Harding que levou toda a fama) eles nao sairam na Climbing magazine ou no Dosage, eles tambem nao tem blog; por sorte pude ver nessa reuniao slides dessa conquista, mais um bate papo tentando lembrar detalhes de 50 anos atras, os velhinhos continuao bem lucidos apesar de todos os acidos dos anos 60. 
Um mes antes desse encontro dos vozinho, Hans Florine e Yuji Hiraiama baixaram o recorde de velocidade da Nose pra 2 hora e 37 minutos e isso voces podem ver no ultimo Master of Stones.
Pra mim aquele encontro com o passado foi super inspirador, foi como encontrar com meus avos, meus avos por opcao de vida. E eu entendi um outro aspecto da minha pratica.

A maior contribuicao que se pode dar pra pratica da escalada e' continuar escalando e tentar se manter vivo. Depois de tantas contusoes, tendinites, ossos quebrados, robadas; depois de tantas vezes ir pro oitavo grau e voltar pro quinto e malhar ate o oito e voltar pro quinto de novo e viver os parceiros que vem e vao e os perrengues de falta de grana; continuar escalando e' quase um milagre (na minha historia mesmo conheco poucas pessoas que aguentariam entre elas ta o Evil Canival).

Quanto tempo voce vai se manter nesse esporte? e' teu trabalho? Como voce imagina o cenario daqui 15 anos?

Nasci no Centro em Floripa, to com 32 anos, escalo desde os 14 aprendi principalmente na Pedreira do Abrao, depois sai viajando que acho que e' o que todo escalador deve fazer. Os Campo Alegre por exemplo deveriam tudo ir morar na Europa por um tempo. 
Continuo escalando 7a (em top roupe) mesmo gravida de 8 meses e busco criar meu nenem nas montanhas que e' onde eu e meu marido vivemos.

Ano que vem quem sabe entre uma mamada e outra posso participar do ranking catarinense se voces estipularem datas com antecedencia e se a inscricao valer a pena. E ai Mulherada, como e' que e'? tao treinando? eu ainda to invicta, nunca perdi em Santa Catarina, vao encarar!?! E organizadores, competicao guiando ne', sem aquela viadagem de top roupe pras meninas.

A temporada em Yosemite ja ta acabando; Novembro e' bom no deserto, Indian Creek, as fendas perfeitas. Dezembro, janeiro tem Hueco Tanks pra quem gosta de boulder. Aproveita que o dolar ta baixo e ouvi dizer que com o Obama ta mais facil de tirar o tal do visto.

Se alguem dessa lista precisar de dicas aqui dos Estados Unidos da um toque ajudo como puder. To com internet esses meses.

Nossa voce leu ate aqui? 
Boas escaladas, memoraveis aventuras

Juliana Petters "